quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Caramelo e os calimeros

O Caramelo e os calimeros
comentando

O vendedor de pipocas de mariana pessoa

"Acredito na sinceridade de MG. Isto é, ele diverte-se mesmo com o seu show-off ao ponto de aceitar o trabalho sem remuneração. É pago em géneros, como se a sua insanidade ideológica fosse uma espécie de terapia. “Eu sei que vocês sabem que eu sei que eu sou um Caramelo”, podia ser o seu slogan. E o que é um Caramelo? Um Caramelo é aquele que se opõe ao Calimero piegas que o “nosso primeiro” invectiva. Não escolheram a personagem por acaso: o Caramelo não choraminga como o Calimero; o Caramelo não é ingénuo, o Caramelo aproveita as oportunidades; e, enquanto o Calimero chora as dificuldades, o Caramelo atropela proactivamente os constrangimentos exteriores.
Todavia, aprofundemos a natureza ontológica do caramelo perscrutando o seu pensamento. Ele não quer saber de política. A sua sabedoria consiste precisamente em não querer saber. Em vez de pensar, fala. E fá-lo com entusiasmo. E da sua verve brota um discurso vazio de pensamento filosófico, como se o seu “eu” não estivesse situado histórica e socialmente. Confesso que também me apetece, muitas vezes, ser assim maluco e determinar o nascimento de um mundo que fosse só o meu e não me interessasse para nada a compreensão da sociedade em que vivo e dos outros.
A consistência de MG nesta forma de estar parece-me admirável, sobretudo porque não me parece que recorra a drogas para esta experiência subjectiva individual. Apetece de facto, mas não saberia viver assim, no orgulho de uma diferença irredutível, crème de la crème, caramelo dos caramelos, erguendo um abismo entre a minha consciência alucinada e o mundo dos outros, os idiotas calimeros entre os quais se contam os quase 20% de desempregados, muitos deles jovens com elevadas qualificações académicas.
Os calimeros são os danados que não conseguem o milagroso “thinking out of box” e por isso são irrelevantes ainda que sejam doutorados porque não têm as ditas competências transversais.
E de facto seria dramática a situação de uma universidade que estivesse fechada sobre si mesma e desligada da sua envolvente social. E a universidade sente este desconforto, e não é de agora, mas sobrevive precisamente no resultado dessa tensão dialéctica entre o pensamento e a sua preocupação com o mundo - num desconforto e na sua superação. Às vezes dentro da caixa, outras vezes rebentando-a e agindo sobre a sociedade.
O que MG propõe é um “thinking out of the box” absoluto, não como um pensamento, mas como uma espécie de maluqueira, “porque sim”, tornando-se assim completamente irrelevante enquanto fenómeno capaz de transformar o estado de coisas, exceptuando o mérito de ter resolvido bem a sua vidinha.
Ainda bem que MG não começa a teorizar muito sobre o assunto e se limita a aconselhar os jovens a fazer pipocas para pagar os estudos, porque se tornaria muito maçador e entediante um coaching filosófico. MG faz muito bem em manter-se neste estado de alienação perante o mundo que desaba. Também me apetece. MG não é um problema. MG não é uma solução. MG é um sintoma."
 
ZVR, Fb; 2013-04-03

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