segunda-feira, 29 de abril de 2019

Do Largo do Rato à Faixa de Gaza

A verdade está com a PSP e com o ministro Miguel Macedo, são desordeiros, perturbadores, ameaçadores, violentos... numa palavra, são PALESTINIANOS (a foto abaixo não deixa dúvidas sobre o grau de ameaça de tais agitadores à segurança física das polícias (sic). E por isso, a carga; havia que "carregar" e corrê-los à bastonada desde o Largo do Rato até à Faixa de Gaza!
 



Foto: www.votobranco.comEnquanto homens, primos, cunhados, vizinhos, amigos, os agentes das polícias são boa gente. Mas enquanto polícias, são repressivos. A natureza da polícia (ou GNR) é repressiva. É a de exercer repressão em nome e por conta de poderes instalados que lhe pagam a soldada (aliás, daí vem a palavra soldado). Para carregar sobre o Povo, porque apesar de ser do Povo o poder, é um poder sem poder, um poder "não exercido", abstracto, diluído. É da natureza das Guardas, da guarda pretoriana, da guarda-reais, da guarda-mor ou da republicana. Vejam o papel das "guardas" nas ditaduras da Península Ibérica do séc. XX, para não ir mais atrás. Por isso, pensem melhor os voluntaristas enternecidos: "Polícias ao lado do povo"?... nem numa ficção de Alexandre Dumas!!!
Enquanto homem, um polícia também chora. Mas enquanto polícia, só "lágrimas de crocodilo".

Foto: Podem impor-nos a sua sombra,
não conseguirão extinguir-nos a luz.
[Lisboa, 14.11.2012]


Fotografias: Nuno Botelho e Tiago Miranda, Expresso:
http://expresso.sapo.pt/48-feridos-nos-confrontos-frente-ao-parlamento=f766817
 http://expresso.sapo.pt/48-feridos-nos-confrontos-frente-ao-parlamento=f766817


A polícia é tão mais repressiva e eficaz quanto mais repressivo for o regime e mais próximos forem dela os sicários desse poder. Se forem conterrâneos, melhor. É "visceral", senão genético. Carregar e bater em nome do poder quando no poder está alguém que tem uma origem familiar e territorial idêntica à (ou próxima) dos próprios polícias fá-los sentir "legitimados" e aparentados com esse poder. De resto, poderes e polícias (e até funcionários judiciais!) repressivos vêm quase invariavelmente da "raia-seca".

Nestes quadros psicosociológicos, a polícia é mais polícia quando bate, reprime, castiga, ao passo que ajudar velhinhos ou aleijados a atravessar passadeiras é humilhante. A Polícia veio para a Cidade mas não gosta da Cidade nem dos cidadãos e o mesmo se passa com  os sicários do poder repressivo. E basta aos poderes, originários da mesma raia-seca, rotular os Cidadãos da Cidade de agitadores e desordeiros (e até de "subversivos") e passar essa mensagem à polícia, que esta carrega de imediato, com indisfarçadas sanha (ou sadismo) e proficiência. Os polícias agressores e violentos de ontem, dia 14, não viram os rostos que sangram nestas fotografias, "viram" apenas fascínoras, hooligans e foras-da-lei dos 7 aos 70 anos de idade. Aliás, o polícia bate sempre num e no mesmo personagem, o do "retrato-robot" que lhe passa o poder repressivo. E se a revelação das fotografias "revelou" quem são afinal os inocentes actores que sangram, é um erro de casting só imputavel a si mesmos, actores, não é erro nem excesso das polícias e se as acossam ou acusam demasiado, já virão clamar que estão a fazer uma mistificação e uma vitimação demagógica e que as fotos são "montadas".  

A Polícia reprime menos ou mais a contra-gosto quando quem manda reprimir é Cidadão da Cidade, não é um primo ou conterrâneo da raia-seca. Mas um Cavaco no poder, em qualquer poder, imprime esse cunho familiar fascizado que legitima e mobiliza as polícias e a carga policial está de pronto na rua e a malhar desapiedadamente. As semelhanças das cargas de ontem com as cargas da Ponte 25 de Abril, por exemplo, não são mera coincidência, como mera não é a coincidência entre aquele e este ministro do MAI.

Parafraseando (ou lembrando) o  ZVR, se Cavaco foi eleito por 2,8% dos eleitores portugueses (2,8 em cada 10 portugueses), 1 era polícia (da raia-seca), 1 era funcionário judicial (da raia-seca), mas falta saber quem ou o que era o/a 0,8...


O Ardina