domingo, 24 de julho de 2011

"É imoral e insultuoso", diz esta incontornável referência moral que preside à CGD...

PROCIDADE

                                    "quem distingue ou separa as 'éticas' numa 'ética para a vida', uma ´'ética para os negócios', uma                                         'ética para a profissão', acaba, irremediavelmente, por nem ter nem praticar ética nenhuma". Zef,VR
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06/07/2011 | 07:17 | Dinheiro Vivo
O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) considera “imoral e insultuosa” a descida do ‘rating’ de Portugal anunciada na terça-feira pela agência de notação financeira Moody’s..."
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que interessante, isto diz Faria de Oliveira que ganha por ano na CGD uns módicos e moralmente aplaudíveis 372 mil euros/ano, antes de prémios e comissões...
i.e., ganha só num ano - e antes de prémios, comissões e mais a futura reforma, tanto como ganhará em 45 anos consecutivos de trabalho um carpinteiro ou uma costureira...
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Num esquema propagandístico que faria inveja a certos regimes do passado, diz diz a Catarina sobre o que na verdade nos vai sendo... Furtado, que na caixa os benefícios crescem à medida que aprofunda o seu relacionamento com o Banco
e o que diz é a mais pura verdade, se falamos dos benefícios da Caixa e dos daqueles que para a mesma são nomeados. Aliás, bem poderia a Catarina dizer que”na caixa os benefícios crescem à medida que aprofundamos o nosso relacionamento com a sua conta”.
Mas para o titular da conta, não é verdade, bem pelo contrário: analisamos dois anos do extracto de conta de um estudante universitário e ficamos bem esclarecidos sobre os benefícios, quem beneficia e como e até onde pode chegar o aprofundamento do banco: nem as perfuradoras petrolíferas se mostrariam tão eficientes...

Sabendo-se que o dinheiro que cada pequeno depositante tem na sua conta à ordem é integrado numa série de instrumentos de “dinheiro desmaterializado” e eficazmente “aplicado” pelo banco numa pluralíssima série de operações de curtíssimo prazo e em seu (dele, banco) estrito benefício, é escandaloso e ultrajante como não só não reparta esses benefícios com os pequenos depositantes como ainda os tribute e puna quando impedem o banco de extrair esses mesmos lucxros a seu gosto e bel-prazer.


 Realizadas no regime de “Overnight”e assim fazendo jus à máxima que diz que “os negócios da noite são os que dão mais dinheiro”, quando por cá é noite e madrugada (ou dia e hora não útil para o banco), até em feijão e costeletas de porco ossadas e desossadas o banco investe esses saldos,  retirando dessa especulação chorudos proventos que não são para distribuir pelos clientes, mas sim pelo larguíssimo corpo de administradores e directores. É por isso que esta banca precisa que se aprofunde o relacionamento. Estes pequenos saldos do mosaico social que compõe as contas da CGD é tão ou mais valioso que a garimpa aurífera para o contratador dos garimpeiros: Que os estudantes, os reformados, a camada mais baixa do funcionalismo público, isto é, os mais pobres, lá deixem o seu parco dinheiro “à ordem” dela CGD, para esta investir, fundear, especular. Em paga, não só não dão, como aprofundam o comissionamento ao ponto de se cobrarem pela mais insignificante operação de uma comissão igual ou superior a 10% de um salário mínimo nacional. Por uma operação que dá menos trabalho e despesa que servir um café numa cafetaria!!!

Ao abrigo do tal preçário de 110 páginas que, supostamente, o cliente deve conhecer antes e que, afinal, nem os próprios funcionários conhecem... depois!

Na altura das graves crises financeiras (mormente a de 1876) no seio das quais nasceu a própria CGD, escrevia assim Oliveira Martins (DG de 28 Fev 1877):

“[...] a liberdade bancária – por uma errada aplicação da força especulativa, por um desvio originado na cobiça natural; desvio que a lei consente por abandonar à anarquia a organização do serviço de crédito, por o tornar dependente de uma especulação que, posta ao abrigo da ruína do crédito pessoal por meio do limite da responsabilidade, se torna desde logo em vertigem de empresas de jogo, e afinal de roubos [...] a agiotagem provocada por uma legislação excessivamente livre[…] capitalização excessiva por parte do Governo, que excedeu o que as forças económicas do país comportavam”…

Nesta altura já existia o Banco de Portugal mas não era estritamente regulador, antes concorria com os restantes bancos e casas bancárias.

Cento e trinta anos volvidos, o Banco de Portugal é estritamente regulador. E o que faz, o que regula, o que é que é diferente hoje em termos de especulação e “vertigens de casa de jogo e roubo op.cit) ”?...

E que moral e ética pratica hoje a CGD, que cultura financeira e responsável pratica o Banco que nasceu para equilibrar/ou sanar quer as más práticas e o quer o estado de coisas de há 130 anos?

Que responsabilidade histórica demonstra?...

Há semanas, o Presidente Faria da CGD, o “dono da cadeira”, patrão de directores e feitores continuamente nomeados e remunerados, modicamente remunerado com uns moralmente aplaudíveis 370 mil euros ano antes de prémios e comissões,  denunciava que o corte de rating da Moody’s como imoral e insultuosa.

Esta ordem não é gratuita, de facto antes da própria Lei há outra ordem de normas que rege a sociedade, as pessoas entidades e instituições, incluindo as bancárias: a moral. E segundo o presidente da CGD, atribuir uma dada classificação pode ser imoral ou insultuoso.

Mas nada encontra ou revela de censurável nas práticas da CGD quando em duas comissões inverosímeis “saca” sem aviso da conta de um jovem a alimentação de uma semana. Não são censuráveis estes impostos ocultos e obscuros praticados para fazer uma Política de Redistribuição de Riqueza Inversa (à semelhança dos governos neoliberais de agora ou de há bocado): tirar, a quem tem pouco, muito!,  para distribuir pelos “nomeados” que, tendo muito, o que recebem é sempre pouco...
Quem põe cobro nestes roubos, nestas extorsões em massa, quem os leva a tribunal???


sábado, 16 de julho de 2011

Ainda as "Oligarquias electivas"

Pedindo simpaticamente ao autor - e ao blog respectivo - que no-lo consinta, recortamos e linkamos uma opinião política - a cujo conteúdo e teor nos associamos - daquelas que julgamos podem fazer a diferença:

por Eduardo Velhinho,
(ver artigo completo em
"Tendências oligárquicas. Uma oligarquia no contexto de um partido ou organização política define-se pelo poder fundado na competência de uma minoria de indivíduos. O processo de formação da oligarquia começa quando se estabelece a diferenciação das funções no seio do partido e se estabiliza quando um grupo de indivíduos, pelas suas qualidades, nomeadamente discursivas e/ou técnicas, se destaca da massa. Esse grupo que se constitui em liderança torna-se estável e quase inamovível. A especialização técnica da direcção faz de modo que as decisões são transferidas das massas para as mãos dos líderes. E à medida que a organização cresce em número de membros, a capacidade da base em controlar a direcção, que entretanto se autonomiza, torna-se cada vez mais problemática(...)"
Assim como nos associamos a este outro post:

"Democracia não é partidocracia e democracia sem povo, ou contra o povo, é mera usurpação"
(Blog tempo que passa, 2009.01.01)                                                 

Mas como nós estamos de acordo!!!

Este é o modelo político-partidário a partir da “consolidação da democracia” que, espelhado de dentro para fora (e inspirado de fora para dentro, claro) acabaria por se replicar na própria governação e administração, central ou local. Ou seja – e mais uma vez - nós não temos um sistema político democrático, nós temos um sistema de Oligarquias Electivas.
Ver, p.f.
“O Clube dos Gerentes Profissionais”
ou
O Patrão”

O que ele próprio (sistema político-partidário) não desconhece, pelo contrário, promove: não foram os media que criaram as designações classe política ou elites políticas, apenas as retransmitem. Mas onde há elites, não há igualdade e onde não há igualdade não há nem cidadania nem democracia plenas. E este será o erro ou o pecado original da nossa “democracia constitucional” e deveria ser a nossa preocupação para a mais necessária, premente e urgente alteração da constituição da república, simples, de resto, exequível através de um instrumento rápido e eficaz, a função “localizar-substituir” do processador de texto: NA CRP, localizar a palavra “povo”, substituir por “cidadão(s)/cidadania”, substituir todos.
Está à vista de todos não houve nem haverá evolução semântica que possa assegurar que a palavra que serviu para durante milénios designar a mais baixa e ostracizada classe social possa servir na pós-modernidade para designar a cidadania plena e igual a democracia. Enquanto se não banir essa designação do Velho Regime, o Povo, sofrer-se-á a consequente “redução” da cidadania, através de fórmulas correntes como o cidadão comum. Não há cidadãos comuns e incomuns porque a cidadania é plena e igual.

Este deveria ser um dos breakpoints [1] ideológicos de uma esquerda que queira iniciar a história da cidadania e da civilização do século XXI, romper com o paradigma democrático ateniense, por um lado, e por outro com estas neo-oligarquias electivas em que Povo é aquele que (apenas) vota, e elites políticas são os elegíveis: os oligarcas. Povo é uma expressão cheia de significado e de valor na antropologia ou no folklore lato sensu, mas é histórica e politicamente é sinónimo de ancila da “classe política”, e dizemos ancila porque num texto escrito seria deselegante dizer “a puta”.

[1] – se não se puder usar aqui ou ali um anglicismo reconhecidamente consensual, muito menos se deveria poder usar latinismos quando o latim desapareceu das escolas há quase 40 anos…


Procidade