quarta-feira, 31 de agosto de 2016

in peach's mind (na cabeça dos pêssegos)

Pronto!
Está consumado o 'golpe palaciano' que irá marcar o Brasil e onde - entre muitas figuras estranhas cuja melhor ilustração seria, seguramente, quer a capa, quer o conteúdo do álbum "coro dos tribunais" de José Afonso - destaco em duas notas, dois personagens: na primeira, a bipolar, perturbada e manipuladora "advogada de acusação" Janaína Paschoal (um verdadeiro personagem de Fellini) e na segunda, a pequenez vingativa de Collor de Melo. Quanto à "advogada", os 45 mil reais que recebeu pelo "parecer" e as surreais lágrimas de cebola, falam por si e o que dela se pode dizer com absoluta acuidade foi o que resumiram numa palavra de ordem um grupo de estudantes ("Janaína é mulher mas não nos representa"). 
Detendo-me em Collor, tivera este "homem piqueno" (grande apenas no tamanho físico) um mínimo ético, e abster-se-ia em todo o processo. Ora não só não o fez, como se destacou pela ferocidade animal, até quanto à votação em separado da perda de mandato (impedimento) e da inabilitação (ou perda dos direitos políticos). E para que se avalie o que valem os afectos, a sensibilidade e a moral desta criatura, uma breve comparação:
1 - Collor viria a ser denunciado no terceiro ano de mandato por ser o primeiro beneficiário de uma corrente que através do tesoureiro da sua campanha se locupletou com vários milhões do Estado. Por corrupção, portanto, e não apenas por "ter publicado três decretos sem autorização dos deputados" para servir políticas públicas - porventura, eleitoralistas - e por, para essas mesmas políticas, "ter contraído empréstimos de bancos da União" (do estado);
2 - Collor defrontou-se com um senado que, merecida ou imerecidamente, estava acima de qualquer suspeita; Dilma foi "julgada" - de facto, foi vítima de um "auto de fé" - por um senado cuja metade dos membros está indiciada por crimes de corrupção (tendo à cabeça o 'activo' Aécio Neves);
3 - Collor, que nasceu em Agosto de 1949, tem hoje 66 anos e 'sofreu' o seu processo de "impeachment" em 1992; com 42 anos, portanto. Dilma Russef, nascida em Dezembro de 1947, tem na data em que passa por idêntico processo, 68 anos; é avó e tem tem idade, portanto, para ser vista como a mãe do Collor de Melo de 1992.
E sobre esta mulher, que simbolicamente, insisto, tem idade para ser mãe do Collor de 92, esta mulher, nesta idade (68 anos), que no dia 29 p.p. passou mais de uma dezena de horas a ser espremida - para não dizer esventrada - por um desprezível bando de hienas - e foi tudo transmitido ao vivo na TV Senado - sobre esta mulher, dizia, um Collor maldoso, reptiliano e despeitado reclamava hoje que Dilma deveria ter sido condenada a sofrer, como ele, a inabilitação. Se Collor nem simbolicamente aceita ser filho de mãe, então é filho da puta mesmo.
Há uma quase trintena de anos, Jacques-Yves Cousteau concluía assim um dos seus fascinantes documentários sobre a vida marinha dedicado a mostrar a cadeia alimentar e a voracidade e frieza dessa inexorável cadeia: Há muita crueldade na natureza, mas nunca tão gratuita, arbitrária e maldosa como a do ser humano...
- Não é Collor, não é Janaína Paschoal, não é Ronaldo Caiado, Cássio Lima, Ana Amélia e demais algozes desta farsa chamada jurídica?..."