mais um inestimável contributo do AT:
"Um Hino Europeu, um hino à culturaQuando Sua Majestade Luis XIV adoeceu.
Parece
que uma vez, ao sentar-se no seu coche, se tinha picado na ponta de uma pena da
almofada do assento, a picada infectou e causou um pequeno abcesso no ânus que
devia ter sido logo aberto e drenado.
Os
médicos do rei, receosos de intervir nas bases da monarquia, optaram por um
tratamento mais leve à base de unguentos. Este tratamento não deu qualquer
resultado e ao fim de quatro meses o rei continuava com o abcesso e com dores insuportáveis.
Em
meados de Maio os cirurgiões diagnosticaram uma fístula o que os deixou
transtornadíssimos e finalmente o 1.º cirurgião, Félix de Tassy, decidiu-se por
uma intervenção para abrir o abcesso. Para isso desenhou um instrumento
especial, uma verdadeira peça de ourivesaria com lâmina de prata.
Mas
foram precisos mais 5 meses para fabricar esse instrumento precioso.
A
operação só foi feita no dia 17 de Novembro, sem anestesia, e foram necessárias
mais duas intervenções porque foi muito difícil fechar a ferida para que
pudesse cicatrizar.
Só
no Natal de 1686 os cirurgiões declararam o rei como curado o que pôs fim aos
rumores que no estrangeiro já corriam de que Luis XIV agonizava.
Como
acção de graças foram rezadas muitas missas em todo o reino e as Senhoras da
Maison Royale de Saint-Louis, em Saint Cyr (colégio interno feminino criado por
Mme de Maintenon) decidiram compor um cântico para celebrar a cura do rei.
A
superiora, Mme de Brino (sobrinha de Mme de Maintenon), escreveu os
seguintes versos:
Grand
Dieu sauve le roi !
Longs
jours à notre roi !
Vive
le roi. A lui victoire,
Bonheur
et gloire !
Qu'il
ait un règne heureux
Et
l'appui des cieux !
Os
versos foram entregues a Jean-Baptiste Lully para que este compusesse a
música e as meninas de Saint Cyr passaram a cantar este pequeno cântico
sempre que o rei vinha visitar o colégio.
Anos
mais tarde, em 1714, o compositor Georg Friedrich Haendel, de passagem por
Versalhes, ouviu este cântico e achou-o tão belo que tomou nota da letra e da
música. Mais tarde, já em Londres, Haendel pediu a um clérigo chamado Carrey
para lhe traduzir os versos de Mme de Brinon.
O
padre traduziu-lhe de imediato a letra e escreveu estas palavras que iriam dar
a volta ao Mundo:
God
save our gracious King,
Long
life our noble King,
God
save the King!
Send
him victorious
Happy
and glorious
Long
to reign over us,
God
save the King !
Haendel
agradeceu-lhe e dirigiu-se de imediato à Corte onde ofereceu ao rei -
como se fosse de sua autoria - o cântico das Meninas de Saint Cyr.
George
I, encantado, felicitou o compositor e determinou que daí em diante o "God
save the King" devia ser sempre executado nas cerimónias oficiais.
E
foi assim que este hino, que nos parece profundamente britânico, nasceu da
colaboração:
-
de uma francesa (Mme de Brinon),
-
de um italiano naturalizado francês (Jean-Baptiste Lully - ou Lulli) ,
-
de um inglês (Carrey),
-
de um alemão naturalizado inglês (Georg Friedrich Händel - ou Haendel).
-
do ânus de Sua Majestade Luis XIV.
De
facto, um verdadeiro hino europeu!
Duas questões:
Se
Louis XIV por acaso não tivesse enfiado uma pena no real traseiro, qual seria
hoje o hino britânico?
Acham
possível que a partir de hoje possam ouvir o "God save the Queen" sem
pensar naquela pena?"
do AT em 2 de Maio 2015
do AT em 2 de Maio 2015
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