sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O perigo "enfático" da retórica

A Notícia:
(http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1424280)

"O processo "Face Oculta" tem atraído a Aveiro alguns dos mais ilustres e caros advogados portugueses, confirmando o poder dos arguidos. 
Não é, com efeito, qualquer um que recorre a advogados como Artur Marques, Rodrigo Santiago, José Manuel Galvão Teles, Rui Patrício, Castanheira Neves, Ricardo Sá Fernandes, Nuno Godinho de Matos ou Tiago Rodrigues Bastos. 

Manuel Godinho, o arguido principal do processo, terá sido apanhado de surpresa, mas não demorou a reagir. O advogado Pedro Teixeira ainda começou por dar a cara pela sua defesa, mas o comando das operações foi rapidamente entregue a Rodrigo Santiago, um causídico com vasta experiência em processos de criminalidade económica. Rodrigo Santiago, que também tem em mãos a defesa do presidente da Académica, José Eduardo Simões, da acusação de corrupção, não foi o único advogado de Coimbra a ser chamado ao "Face Oculta". O outro é o veterano Castanheira Neves, que defende o arguido Paiva Nunes, administrador da EDP. Castanheira também é advogado do ex-presidente do PS/Coimbra Luís Vilar, acusado de corrupção e financiamento partidário ilegal. 
Ainda de Coimbra são, igualmente, os arguidos e militantes do PS, José e Paulo Penedos. Mas estes recorreram a advogados de Lisboa, que também se costumam pagar a peso de ouro. O presidente da REN, José, garantiu uma dupla de luxo: o experimentado Galvão Teles e Rui Patrício, de quem se diz estar "na moda". Defensor de arguidos da "Operação Furacão", Patrício também é membro do Conselho Superior da Magistratura, nomeado pelo Parlamento. 
O advogado de Paulo Penedos talvez não lhe fique tão caro, mas só porque partilha escritório com ele. É Ricardo Sá Fernandes, o defensor de Carlos Cruz no processo Casa Pia."

Como se permite o jornalista fazer esta afirmação, colocando ali a figura de retórica "com efeito"  para aduzir uma indesmentibilidade absoluta que afinal não existe ("Não é, com efeito, qualquer um que recorre a advogados como...)"?...

Não podemos falar pelo(s) que não conhecemos;  mas havendo pelo(s)  que conhecemos, Como se engana, ou presume erradamente, ou falta à verdade, o jornalista quando os refere como "advogados caros" e que pena que não tenha tentado marcar uma consulta para todos - e rigorosamente todos - os advogados que nomina antes de fazer esta afirmação. Admite-se que haja ali nomes a quem nem todos possam aceder e alguns a quem praticamente ninguém acede. Mas também ali se refere alguém a quem rigorosamente qualquer um pode recorrer e a quem qualquer um pode pagar

Deve ser um novo modelo de jornalismo especulativo ou experimental mas que não não tem a mínima bondade e apenas verte insinuações. Mas ao identificar os nomes em vez de dizer, por exemplo, "não é qualquer um que pode recorrer ao naipe de advogados que defende os arguidos do processo face oculta" está, de alguma forma, a dizer inverdades acerca de algum ou alguns dos referidos e a prejudicar a sua imagem, o que agrava ainda quando diz "(...) alguns dos mais ilustres e caros advogados portugueses, confirmando o poder dos arguidos (...)".

Podemos concordar que os diga Ilustres embora este termo seja de pouco ou nenhum conteúdo, tal como é de pouco alimento e não saciam aqueles conezinhos da "língua da sogra" e pudesse dizer generosamente bons advogados porque há ali nomes que são reconhecidamente muito bons e muito competentes causídicos há décadas. Quanto ao caro, não fora o facilitismo deste jornalismo a lembrar a coscuvilhice dos bairros lisboetas nos filmes de Leitão de Barros, investigasse minimamente e com seriedade o jornalista e surpreender-se-ia quando descobrisse que de entre estes nomes há quem não só atenda, represente ou defenda qualquer um, como é ainda menos caro que muitos advogados medianos. 
Assim não, amigos do JN. Mal por mal, a Vera Lagoa e o Diabo, porque já sabíamos com o contávamos...

Procidade

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